Desde o começo de 2020, o mundo se mobilizou contra o novo coronavírus, fazendo com que o distanciamento social e a higienização constante se tornassem parte da rotina das pessoas.
A partir daí, cientistas de diversos países começaram a estudar o vírus e todas as suas particularidades para, em um futuro próximo, chegarem a uma possível vacina.
Alguns estudos não surtiram efeito ou ainda estão em fases iniciais de testes. Porém, já existem duas pesquisas que se destacam: uma na China e outra na Inglaterra.
Uma delas, inclusive, conta com a participação de cientistas brasileiros. Ao que tudo indica, a imunização contra o Covid-19 está mais próxima do que muitos poderiam imaginar.
E para que você entenda os avanços destes estudos e quais são as expectativas para a confirmação de uma vacina, separamos os seguintes tópicos:
- Fases de um estudo clínico
- Pesquisas na Inglaterra
- Pesquisas na China
- Pesquisas na Rússia
- Chegada no Brasil
Fases de um estudo clínico
Para entender o processo de criação de uma vacina, assim como de outros medicamentos, precisamos saber como funcionam os estudos clínicos de uma forma geral.
No caso das vacinas, os testes e pesquisas costumam levar anos. Para se ter uma ideia, a mais rápida desenvolvida até hoje foi a vacina contra a caxumba, que precisou de cerca de quatro anos até ser licenciada e distribuída para a população.
Isso acontece porque o procedimento é dividido em três etapas, sem contar as fases de experimentação pré-clínica. Feita em laboratório e com cobaias, essa etapa busca garantir a segurança do medicamento, antes de testá-lo em seres humanos.
Em seguida, as outras etapas são:
Fase 1
Avaliação preliminar da segurança do imunizante, feita com um número reduzido de voluntários adultos, saudáveis e monitorados de perto. Este é o momento de obter as respostas que o medicamento produzirá no corpo.
Fase 2
Aqui, o estudo clínico é ampliado e conta com centenas de voluntários. O medicamento é testado em pessoas com características (como idade e saúde física) semelhantes ao público-alvo da vacina. Neste momento, conseguimos identificar o nível de proteção do imunizante, assim como a dosagem ideal.
Fase 3
Ensaio em larga escala com milhares de pessoas. Este é o momento de obter uma avaliação definitiva da eficácia e da segurança da substância em maiores populações. Nesta fase, também se prevê efeitos colaterais e a durabilidade da proteção. Depois disso, é possível fazer um registro sanitário e disponibilizar o medicamento.
No Brasil, para realizar pesquisas e estudos clínicos, é necessária a aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Os voluntários são recrutados pelos próprios centros de pesquisa.
Pesquisas na Inglaterra
No Reino Unido, mais precisamente na Universidade de Oxford, foi criada uma vacina, em parceria com o laboratório AstraZeneca, capaz de induzir a resposta imune tanto por anticorpos como por células T (células do sistema imune capazes de identificar e destruir outras células infectadas) até 56 dias depois da administração da dose.
Este resultado já foi comprovado nas duas primeiras etapas e a terceira está em andamento. Ou seja, a vacina será testada em milhares de pessoas e, assim, será possível comprovar seu verdadeiro poder de imunização.
Segundo a OMS, esse é o medicamento mais avançado até o momento para o combate da doença. Mais de 50 mil voluntários já estão participando dos testes, inclusive no Brasil.
Para a criação da vacina contra o coronavírus, foi utilizada uma tecnologia conhecida como vetor viral recombinante, seguindo o seguinte processo:
A partir de uma versão enfraquecida de um adenovírus (que causa resfriado em chimpanzés), que não causa doença em humanos, foi adicionado o material genético usado na produção da proteína "spike" do Sars-Cov-2 (a que ele usa para invadir células), induzindo os anticorpos.
Segundo o professor de pediatria da Universidade de Oxford, Andrew Pollard, o processo “faz com que as células dessas pessoas [vacinadas] produzam a proteína S, e ajuda a ensinar o sistema imunológico a reconhecer o vírus Sars-Cov-2”.
Sobre as respostas adversas do medicamento, os resultados também são satisfatórios. Isso porque os únicos efeitos colaterais, até o momento, são possíveis dores musculares e inchaços ao redor da injeção, além de febre – sintomas comuns em vacinas virais.
Pesquisas na China
Já na China, o estudo realizado pela empresa CanSino Biologics, teve seus resultados divulgados recentemente, mostrando que o medicamento é seguro e induz resposta imune. Os testes foram feitos em Wuhan, cidade da província de Hubei, onde surgiram os primeiros casos notificados da Covid-19.
Com metodologia similar a vacina inglesa, ou seja, com o uso de um adenovírus enfraquecido, os testes ainda não expuseram os voluntários ao Sars-Cov-2, o novo coronavírus. Por esse motivo, ainda não é possível confirmar se o nível de imunização fornecido é capaz de evitar a doença.
Pesquisas na Rússia
Mais recentemente, a Rússia também anunciou que está desenvolvendo uma vacina contra coronavírus. Apelidada de Sputnik 5 (em alusão a corrida espacial durante a guerra fria), a imunização ainda é vista com desconfiança pela OMS, por falta de informações e dados precisos sobre as pesquisas em andamento.
O que se sabe até agora é que a vacina russa custou cerca de quatro bilhões de rublos (aproximados R$ 300 milhões) e foi financiada pelo Fundo de Investimento Direto da Rússia (RDIF) – em parceria com o Ministério da Defesa do País.
Chegada no Brasil
No Brasil, como já adiantamos, diversos voluntários estão participando dos testes para a vacina desenvolvida em Oxford. Liderado pelo Instituto Butantã, em São Paulo, o ensaio estima atingir cerca de 900 pessoas.
De acordo com o governador do estado paulista, João Dória (PSDB), caso os testes sejam bem sucedidos, a estimativa é que a produção da vacina contra coronavírus comece em 2021.